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Brasil em Foco

Série Brasil em Foco 12/2025

Eleições 2026: atenção aos Senadores / A política internacional e sua importância nas Eleições 2026

A edição de dezembro da série Brasil em Foco traz dois artigos dedicados às eleições de 2026: o primeiro, da autoria de Humberto Dantas, analisa a votação para senador e suas especificidades, e o segundo, escrito por Leandro Gavião, analisa a importância da política internacional no cenário eleitoral brasileiro. A série Brasil em Foco tem por objetivo publicar mensalmente artigos com análises sobre os principais temas em pauta no cenário político, a fim de contribuir no debate democrático.

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Eleições 2026: atenção aos Senadores

Humberto Dantas[i]

Pesquisas mostram, historicamente, a dificuldade de o brasileiro saber em quem votará. Essa situação se agudiza para o cargo de senador da República. O cenário piora em eleições que renovam dois terços do Senado, pois as pessoas têm dificuldades em compreender que devem votar duas vezes para o mesmo cargo, não podendo repetir o primeiro voto, sob a pena de anular esta segunda opção quando ela é igual à primeira. Piora o cenário quando as pesquisas perguntam se as pessoas lembram em quem votaram para este cargo nas últimas eleições. Por se tratar do único mandato eletivo de oito anos, esta memória deveria ser ainda mais duradoura, ou seja, em 2026 eu devo ter em mente os dois votos que dei em 2018 e o voto que dei em 2022. Nada feito. E para piorar, as pessoas têm dificuldade em compreender o que faz o Senado e o que ele de fato representa.

O Brasil possui, no plano federal, um Poder Legislativo bicameral, ou seja, composto por duas casas parlamentares sediadas em Brasília, num local conhecido como Congresso Nacional – a reunião da Câmara dos Deputados ao Senado Federal. A primeira representa o povo dos estados, e por isso, em termos relativamente proporcionais, as unidades menos populosas possuem oito deputados federais cada e a mais populosa, 70. Ao todo, são 513 parlamentares.

Já o Senado representa os Estados na órbita federal, e dessa forma, cada unidade federativa terá o mesmo número de representantes – para nós, três, totalizando 81, ou seja, um trio para cada um dos 27 estados. Há quem questione a ideia do bicameralismo, mas mundialmente os federalismos tendem a reproduzir este modelo em larga escala. Os mandatos no Senado brasileiro, como dito, também são diferentes: possuem oito anos. Por se tratar de uma casa que em tese busca o equilíbrio e o arrefecimento de movimentos conjunturais, nunca o Senado será 100% renovado, mesmo que esta fosse a vontade do eleitor. Assim, as eleições ocorrem a cada quatro anos de forma alternada: em um ano de eleições gerais se elege um senador por estado, e quatro anos depois escolhemos outros dois. No primeiro caso, a candidatura mais votada em cada estado ocupará uma vaga em Brasília, no segundo caso, cada eleitor oferta dois votos e os dois primeiros colocados exercerão mandatos de oitos anos no Senado Federal.

O sistema eleitoral pelo qual selecionamos os senadores é o majoritário de turno único, portanto de maioria simples. Assim, em uma primeira rodada de votação, ocorrida no primeiro domingo de outubro, sem qualquer possibilidade de segundo turno. Por se tratar do modelo majoritário, outra característica é relevante: o substituto do senador é conhecido do eleitor desde a realização das convenções partidárias que determinam as candidaturas. É como se estivéssemos pensando aqui no vice-governador, no vice-prefeito ou no vice-presidente, ou seja, em condições normais, tudo é definido antes de as campanhas começarem. Por terem mandatos de oito anos, no entanto, os senadores possuem dois suplentes pré-definidos. Na propaganda, nos registros oficiais da justiça eleitoral e na própria tela da urna eletrônica aparecem registros desses nomes – dos três. Mas ao contrário dos vices escolhidos para os cargos do Poder Executivo, os suplentes de senadores não têm funções oficiais, tampouco remuneração prevista.

No Brasil, para além de representarem os estados, o Senado tem funções constitucionais específicas, sendo uma das mais discutidas atualmente, em virtude da efervescência política, acatar ou recusar indicações do Poder Executivo para órgãos como o STF. E aí? Preparado para votar em dois senadores em 2026? O país precisa estar atento a isso.

 

A política internacional e sua importância nas Eleições 2026

Leandro Gavião[ii]  

A ideia de que a política externa não tem relevância eleitoral no Brasil não resiste a uma breve revisão histórica. Em 2002, quando a Área de Livre Comércio das Américas ainda estava em negociação, o tema colocou em evidência diferenças nítidas entre os projetos em disputa, com posições divergentes sobre integração hemisférica, autonomia diplomática e liberalização comercial. Nos anos seguintes, questões diplomáticas continuaram a produzir dissensos: debates sobre os rumos do Mercosul, o papel da Unasul e dos BRICS, a relação com países marcados por graves violações de direitos humanos e o posicionamento do Brasil em organismos multilaterais tornaram-se temas recorrentes. Desde então, ainda que ocupando um lugar secundário, a política internacional permanece presente na imprensa, nos programas partidários e nos debates entre presidenciáveis, funcionando como um indicador relevante das distintas visões de país apresentadas aos eleitores.

Esse quadro tende a se intensificar em 2026, em grande parte pelo agravamento das tensões que marcam o sistema internacional contemporâneo. De um lado, potências revisionistas como China e Rússia apostam em um redesenho da distribuição global de poder, ampliando sua influência militar e tecnológica e pressionando por uma reconfiguração do papel das instituições multilaterais. De outro, os Estados Unidos - hegemonia tradicional que enfrenta um declínio relativo e que, sob a liderança de Donald Trump, abandona a função histórica de guardião do multilateralismo - adotam uma postura abertamente unilateral. Em vez de sustentar a arquitetura institucional arduamente construída após a Segunda Grande Guerra, Washington tem priorizado o protecionismo, a lógica unilateral nas relações externas e a redução de compromissos considerados onerosos - ilustrados, respectivamente, pelas tarifas implementadas à margem da Organização Mundial do Comércio, pela saída do Acordo de Paris e pelo afastamento dos Estados Unidos de organismos das Nações Unidas, como o Conselho de Direitos Humanos e a Unesco.

No contexto brasileiro, a polarização do cenário político doméstico, em ascensão desde as Jornadas de Junho de 2013, contribui para ampliar significativamente o peso simbólico da política externa. Em meio a um ambiente em que ideologias e verdadeiras batalhas culturais estruturam as percepções públicas, a inserção internacional do país deixa de ser tratada como assunto de Estado e passa a operar como uma expressão adicional das clivagens internas. Desse modo, alinhamentos, prioridades regionais, relações com grandes potências e leituras sobre a configuração da ordem mundial tornam-se extensões diretas das disputas domésticas.

 

Nesse ambiente, ao projetar o panorama eleitoral de 2026, torna-se evidente que a esquerda - representada pelo governo Lula, que busca a reeleição - e a direita - cuja candidatura principal ainda permanece indefinida - apresentam visões de mundo claramente distintas em matéria de política externa. Enquanto os petistas tendem a privilegiar a cooperação Sul-Sul, o fortalecimento dos BRICS, a retomada da integração sul-americana e uma postura de maior autonomia em relação ao eixo transatlântico, a direita costuma defender alinhamentos mais estreitos com Estados Unidos e Israel, maior cautela em relação à China e à Rússia e um engajamento mais seletivo no multilateralismo.

Diante desse cenário, a política externa emerge como uma das arenas mais reveladoras do confronto entre projetos nacionais nas eleições. As escolhas de alinhamento e a leitura que cada campo político faz da ordem global sintetizam concepções distintas de desenvolvimento, de soberania e do papel internacional do Brasil. Em um mundo que passa por rápida transformação, ignorar essas diferenças seria ignorar uma dimensão substantiva das alternativas estratégicas que se colocam ao país. A disputa eleitoral, portanto, não se restringe ao plano interno: ela traduz visões concorrentes de inserção internacional e projeta dois caminhos futuros possíveis para o Brasil. É nesse cruzamento entre escolhas internas e orientações externas que se definirá, em grande medida, o rumo que o país pretende seguir na próxima década.

 

 

[i] Cientista político, doutor pela USP e parceiro da KAS.

 

[ii] professor na Universidade Católica de Petrópolis (UCP), pós-doutorado em História (UFRJ) e coordenador do Núcleo de Estudos Internacionais Brasil-Argentina (NEIBA-UERJ).

 

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