Para a KAS Brasil, é fundamental um debate de alto nível aberto à sociedade civil com especialistas dedicados ao entendimento do cenário dos próximos quatro anos. Em seu discurso de abertura, Anja Czymmeck, Diretora da KAS Brasil, enfatizou o bom funcionamento das instituições democráticas do país, o que garantiu uma condução ordenada e pacífica das eleições, marcadas pela eficiência da apuração do resultado eleitoral. Ela também sublinhou a importância da parceria estratégica entre a Europa e o Brasil, bem como o significado da tradição multilateral do país em organizações internacionais.

A primeira especialista, Graziella Testa, cientista política e professora da Fundação Getúlio Vargas (FGV), abordou o clima de tensão da campanha eleitoral. Ela também explicou que esta foi a primeira eleição em que o presidente em exercício não foi reeleito e que a diferença entre os dois oponentes foi a menor desde o início da redemocratização. Além disso, Graziella Testa explicou que a introdução da cláusula de barreira levou a uma redução do número de partidos. Isto teve um impacto positivo sobre a governabilidade, já que o cenário partidário está menos fragmentado e os grupos de interesse mais agrupados. No que diz respeito à formação de federações partidárias, o impacto no trabalho parlamentar ainda está para ser analisado. Com relação ao resultado das eleições, a analista argumentou que o crescimento do Partido Liberal (PL) levanta a questão de quem assumirá um papel de liderança dentro da extrema-direita diante da derrota do presidente Bolsonaro. Ela disse que o conservadorismo profundamente arraigado, que havia falhado em posicionar um candidato com chances de vencer, agora tinha uma chance de se classificar e oferecer uma alternativa confiável até as próximas eleições.

A especialista Juliana Damasceno, economista-sênior da Tendências Consultoria, abordou os desafios econômicos do novo governo em sua apresentação. Embora a situação econômica venha se recuperando dos impactos da pandemia, o setor de serviços ainda sofre as consequências, pois é o último a se recuperar. Além disso, em vista dos ajustes adiados, por exemplo, nos setores previdenciário e administrativo, a alta da inflação e do aumento da dívida orçamentária, é difícil financiar as promessas eleitorais de políticas sociais. Resta saber se o futuro governo terá coragem política para enfrentar os desequilíbrios orçamentários ou se dará prioridade ao financiamento de promessas eleitorais. Adicionalmente, é Damasceno explicou que mais importante que o tamanho do Waiver, isto é, a permissão para gastos do governo no período de um ano, é a âncora fiscal que será definida pelo novo governo.

Por último, o especialista Guilherme Casarões, professor e pesquisador da Fundação Getúlio Vargas (FGV), abordou o significado do resultado eleitoral para os novos rumos da política externa brasileira e a percepção internacional do Brasil. Em sua análise, a vitória de Lula representa o triunfo da democracia liberal e plural sobre uma democracia com características autoritárias. Ao mesmo tempo, o novo governo enfrenta o desafio de convencer os 58 milhões de cidadãos, que votaram em Bolsonaro, e de fazê-los se entusiasmarem novamente com a democracia. Adicionalmente, a coordenação internacional de reconhecimento da vitória de Lula por mais de 90 chefes de Estado e de governo ajudam a evitar qualquer tipo de aventura autoritária ao final do processo. O novo governo enfrenta agora o desafio de recolocar o Itamaraty dentro do processo decisório de política externa e recuperar a credibilidade internacional do país. Além disso, espera-se que a retomada de relações mais fortes com a América do Sul. Por último, mas não menos importante, o tratamento da crise humanitária e democrática na Venezuela é relevante para a expansão do papel de liderança do Brasil na região.

O evento contou com um público de 30 pessoas e mais de 300 convidados online do Brasil e da América Latina. Mais informações sobre o resultado das eleições e análises também podem ser encontradas em nosso dossiê temático.