Big Data e democracia no Brasil
O objetivo desta edição da série Cadernos Adenauer, a segunda de 2025, é apresentar uma série de artigos que analisem alguns dos principais aspectos do Big Data, no que concerne aos seus impactos na democracia brasileira, ofertando aos leitores textos que ajudem a entender o que é o Big Data, seus impactos e desafios no contexto da democracia brasileira, bem como tal tecnologia pode contribuir para o fortalecimento da democracia.
Tecnologias digitais, dados e democracia: um breve debate sobre o impacto das tecnologias manipulativas nos processos eleitorais
Leonardo Paz Neves
O presente texto busca analisar como a explosão de dados e a expansão das infraestruturas digitais, combinadas à tecnologias como IA e a algoritmos, reconfiguram a política contemporânea. Ancorado em conceitos como “capitalismo de vigilância” de Zuboff, o texto sustenta que dados comportamentais se convertem em ativos para perfilar e induzir condutas no ambiente democrático, deslocando a disputa eleitoral para ambientes opacos de microtargeting, desinformação e uso massivo de bots.
O uso de Big Data e da Inteligência Artificial Generativa nas campanhas eleitorais
Joscimar Souza Silva
Isabela Rocha
Este artigo propõe diretrizes práticas para o uso estratégico de Big Data e Inteligência Artificial Generativa (IAG) em campanhas eleitorais, com foco no contexto democrático brasileiro. Partindo da teoria da poliarquia de Robert Dahl, discutimos os riscos da concentração informacional e da vigilância algorítmica, destacando a importância das fontes alternativas de informação para o equilíbrio democrático. Em seguida, exploramos os dilemas éticos do uso dessas tecnologias em sociedades marcadas por desigualdades estruturais e baixa alfabetização digital. Por fim, propomos quatro eixos práticos de atuação: (1) planejamento orientado por dados, (2) conexão entre identidade da candidatura e tática digital, (3) sustentação da grande narrativa e (4) construção de conteúdo orgânico com base em afetos positivos e capilaridade espontânea.
Lógicas que excluem: inteligência artificial, gênero e os limites da democracia
Patricia Rangel
Jéssica Melo Rivetti
Flávia Rios
O avanço acelerado do uso de Big Data e da inteligência artificial (IA) tem transformado profundamente as democracias contemporâneas. Embora essas tecnologias ofereçam oportunidades inéditas para a personalização de serviços, análise de tendências e automação de processos, elas também trazem desafios éticos importantes. Um dos mais críticos é o viés algorítmico – uma reprodução automatizada de desigualdades sociais historicamente construídas. Este artigo discute como os sistemas baseados em Big Data podem reforçar desigualdades de gênero e comprometer direitos fundamentais, especialmente os das mulheres.
Big Data, desinformação e governos: desafios para garantir a integridade da Informação
Luciana Santana
Wendel Palhares
A transformação digital e o avanço das tecnologias de informação e comunicação ampliaram a capacidade de coleta e análise de dados, redefinindo práticas sociais, políticas e governamentais. Nesse contexto, o Big Data e a inteligência artificial potencializam tanto a personalização de conteúdos quanto a disseminação de desinformação, ameaçando a confiança institucional e a qualidade democrática. Estudos indicam que, embora a desinformação raramente altere crenças centrais, seus efeitos indiretos fragilizam instituições, aumentam a desconfiança e podem afetar processos eleitorais.
Big Data: os desafios à regulamentação do uso de dados
Eleonora Mesquita Ceia
Pedro Teixeira Gueiros
O artigo examina os desafios da regulamentação do uso de dados em um cenário global marcado pelo avanço exponencial das tecnologias digitais e pela centralidade informacional do Big Data. Parte-se da constatação de que os dados se tornaram o principal ativo econômico da era digital, impulsionando modelos de negócio baseados em vigilância algorítmica e na extração massiva de informações pessoais.
A transparência governamental no uso de Big Data
Maria Paula Almada
Isabele B. Mitozo
A transparência governamental, entendida aqui como a disponibilidade de dados e informações governamentais públicas de qualidade, é peça essencial para o controle social e a participação cidadã. O advento dos chamados big data não apenas têm transformado a transparência governamental, como lhe têm imposto desafios democráticos. No Brasil, marcos como a Lei de Acesso à Informação e a LGPD regulam a abertura de dados e a proteção da privacidade, mas enfrentam algumas tensões específicas. O uso massivo de dados, muitas vezes cruzados e coletados automaticamente, amplia riscos de desinformação, vigilância e microtargeting.
(Public) Attention is all you need: desafios e potencialidades da transparência, do Big Data e da IA no combate à corrupção1
Ciro Moraes dos Reis
Guilherme France
Neste texto, investigamos como a transparência, o Big Data e a Inteligência Artificial tornam-se protagonistas no combate à corrupção. Revelamos potencialidades: mostramos como dados massivos e algoritmos podem expor irregularidades escondidas no setor público e incentivar uma cidadania mais informada e participativa. Mas não fugimos dos dilemas: apontamos que, apesar das promessas, essas tecnologias trazem riscos – decisões opacas, exclusão digital, vieses algorítmicos.
Segurança pública na era do Big Data: policiamento algorítmico, suas limitações operacionais e seus dilemas éticos
Daniel Edler
Novas tecnologias de segurança têm transformado a rotina de forças policiais, trazendo mais eficácia para o serviço de investigação e permitindo ao policiamento ostensivo aumentar a eficiência no controle preventivo do crime. Avanços recentes na área de ciência de dados, além da disponibilidade de sistemas de processamento computacional mais baratos, permitem que departamentos de polícia aprimorem o serviço prestado à população, auxiliando as forças de segurança a “fazerem mais com menos”. Contudo, essas inovações também criam desafios na prática policial. Além de apresentar aplicações recentes de big data no campo do policiamento e suas limitações operacionais, esse artigo debate os riscos da vigilância em massa e do aprofundamento de padrões discriminatórios nas estratégias de controle do crime.
Big Data, democracia participativa e o papel da Inteligência Artificial
Filipe Medon
O artigo examina como Big Data e Inteligência Artificial reconfiguram a deliberação e a participação democráticas no ambiente digital na atualidade. Para tanto, parte de um mapeamento de riscos múltiplos, como a desinformação e a filtragem algorítmica, a qual intensifica bolhas e assimetrias informacionais, afetando a igualdade deliberativa. Na sequência, contextualiza o debate no marco regulatório brasileiro, à luz da responsabilização de plataformas após a decisão do STF sobre a constitucionalidade do artigo 19 do Marco Civil da Internet, e discute inovações democráticas, além de avaliar o potencial positivo do emprego de IA em tarefas como o agrupamento de contribuições e mensuração da qualidade do debate, reconhecendo limites de viés, custo e evidência empírica.
Democracia movida a dados: valores democráticos e regulação na era da inteligência artificial
João Victor Archegas
Diana de Souza Fernandes
O artigo sustenta que a transição da “sociedade em rede” para uma “sociedade algorítmica” colocou os fluxos de dados no centro das dinâmicas econômicas, sociais e políticas – ampliando riscos de concentração informacional. Como contrapeso democrático, defende-se a abertura de dados para fortalecer a accountability e a deliberação pública. Propõe-se, ainda, a tecnodiversidade e a inovação aberta como pilares para redistribuir poder técnico, à luz das assimetrias de infraestrutura computacional e cadeias de semicondutores. No campo regulatório, analisa-se o PL 2.338/2023 (inspirado no AI Act europeu), apontando um trilema entre incentivo à inovação, mitigação de riscos e regras claras, e o risco de sobrecarga regulatória frente às metas do Plano Brasileiro de IA.